2009-02-22

"Adeus, até sempre que é o tempo certo"

Foi com estas palavras que soube da morte do Mestre Lagoa Henriques.

Se há pessoas que tiveram uma grande importância na minha formação como pessoa, uma delas foi o Mestre Lagoa Henriques. Conheci-o há cerca de 30 anos no mesmo local que hoje me despedi dele: o seu atelier.

Eu não sou escultor, nem pintor, nem arquitecto. E nem tenho engenho e arte, a minha formação é toda na área técnica. Mas sempre que ouvia o Mestre ficava com uma inveja enorme dos seus alunos nas Belas Artes, e imaginava o prazer que seria estar numa sala de aulas com o sorriso e a alegria de viver deste Contador de Histórias.

E é assim que irei sempre recordar o Mestre: o meu Contador de Histórias.

A última vez que ouvi o Mestre publicamente foi em Setembro de 2007, no lançamento do livro da Olga Sotto. Estávamos na FNAC do Chiado, e o Mestre recordou a primeira vez que tinha entrado naquele espaço, de mão dada ao seu avô, com todos os pormenores de um olhar arquitectónico de quem tem 5 ou 6 anos... E fez-nos sentir tão crianças, aquele homem de cabelos brancos a reviver com tanto amor o seu avô!...

E uns anos antes - um ou dois, não mais - em Linda-a-Velha, no Teatro Lurdes Norberto, numa homenagem à Eunice, o Mestre subiu ao palco para falar um pouco da homenageada. E a história ganhou toda outra vida, quando falava dos seus 14 ou 15 anos, do teatro-circo dos pais da Eunice estacionado na Nazaré, e como os rapazes pulavam a cerca para os bailaricos no chapitô. Engraçado idealizar o Mestre com 15 anos a conviver com a futura actriz então com 10 anos. E falou durante horas desta sua grande amizade que durou até hoje, com tanta ligeireza, que eu podia ficar ali mais umas quantas horas a ouvir, sem qualquer cansaço. E eu, que tantas vezes tinha ouvido falar do teatro-circo, e afinal não sabia nada! Nada!

Levantava-se e contava histórias. Assim. Tão fácil como isso.

Um Contador de Histórias. O Contador de Histórias.

Obrigado Mestre! Até sempre que é o tempo certo.

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